A dança em 3 atos - Segundo Ato
3 da manhã. Lúcia acorda com a impressão de ter ouvido Nina chamá-la, lá do seu quarto. Silêncio. Ela fica uns segundos atenta, controlando até a respiração para poder ouvir melhor os barulhos da noite.
- Manhêêêêêê! - Era Nina, assustada e agora pedindo mais alto pela mãe.
Lúcia senta-se na cama por alguns segundos, a fim de se acostumar com a escuridão do quarto e ainda meio sonolenta dirige-se até o quarto de Nina. Ainda na porta do quarto ela percebeu que Nina tivera um pesadelo, pela forma como estava sentada, encolhida num canto da sua cama.
- Que foi filhinha. Teve um sonho ruim? Mamãe está aqui. Mamãe está aqui – Disse carinhosamente Lúcia, enquanto envolvia Nina em seus braços, como que querendo protegê-la e entender o que se passara – Quer falar com a mamãe sobre esse sonho ruim?
Nina tinha 8 anos e estava numa fase transitória, onde já se tornara um pouco mais independente, ao ponto de já dormir na casa de amiguinhas da escola algumas vezes e ainda ter uma dependência, quase dengosa da mãe, nestas noites de pesadelo e nos horários de refeições. Sempre queria almoçar ou jantar com a mamãe.
Então ela começa a falar sobre o pesadelo.
- Mamãe, eu não quero mais dançar! Eu tenho medo de tropeçar ou de alguém me empurrar no meu número. Eu sonhei que levava um “tombão” e todo mundo ria de mim, na platéia, enquanto eu chorava no palco. Até a Livia ria de mim, mamãe. Minha melhor amiga!
- Ah! Minha filhinha querida! Você tem se dedicado tanto e gosta tanto de dançar, de fazer ballet. Lembra quando você me pediu pra entrar no ballet? Você era um pinguinho de gente. A mamãe vai estar com você. Bem pertinho na hora de seu número. E você amou o seu figurino lembra? Você será uma das fadinhas do espetáculo. Já pensou se você fosse uma fada de verdade?
- Fadas nem existem mamãe! – respondeu ela com voz chorosa.
- Não! Sério? Não acredito! – Respondeu a mãe. – Então o que são as fadas pra você? Você não se importa de acreditar que as fadas não existem?
- Ora! É coisa da cabeça da gente. É invenção de criança. Eu acreditava quando era menorzinha, né? Ah! Mãe. Eu não ligo mais! Até gosto daqueles livros de fadas. Mas eu sei que é apenas uma lenda! Não sou mais nenhuma criancinha.
Lucia divertiu-se com a frase final da filha de apenas 8 anos, que já fazia ballet há 4 anos, por vontade própria e agora, pela primeira vez fora escalada para um numero especial da academia que fazia suas aulas. E aproveitou a deixa de Nina:
- Filha, pesadelo é como contos de fadas. Você vive uma fantasia e no fundo não é real, entende? Você não vai cair no seu numero, ninguém jamais seria capaz de rir numa situação destas e você conseguirá fazer o que gosta, amor. Dará tudo certo! Acredita na mamãe?
- Acredito sim mamãe. Você fica pertinho, na platéia?
- Claro filha! Estaremos juntas, combinado?
Naquele restinho de noite, Nina dormiu um sono tranquilo, sonhou com borboletas, arco Iris e muitas fadas dançarinas. Acordou na manhã seguinte feliz e animada para dançar na apresentação da sua academia.
8 horas. A campanhia avisa que o espetáculo irá começar em poucos minutos. Na platéia lotada, Lúcia está na primeira fila rezando e sintonizada com a filha. As cortinas se abrem.
Logo surge Nina, nos seus mágicos 8 anos. Linda, segura, dançando como se flutuasse. Por alguns segundos os olhos de ambas se cruzaram. Sorriram com cumplicidade e amor.
Fim do espetáculo. Todos de pé. Aplausos. Na primeira fila a mãe. No palco a filha agradece o carinho e amor com um largo sorriso infantil de felicidade.
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