Dança em Três Ato
A dança em 3 atos - Primeiro Ato
Raul e Paula estavam especialmente ansiosos naquele dia. Também não era por menos, seria o grande dia da apresentação do número de dança do casal.
Raul, durante o café da manhã, recordava com alegria o quanto a ideia de Paula fizera bem ao casamento deles. Este ano comemorariam 10 anos juntos! Em grande estilo, com um número de tango.
Ele não conteve o riso quando se lembrou do convite de Paula, há quase um ano atrás. Na verdade, foi mais uma intimação que convite. Ela simplesmente lhe deu a notícia da seguinte forma, com certa urgência na voz, “Raul, vamos dançar!”.
Ele assustado, sorriu e lembrou que nunca mais, neste tempo todo dançaram. A última vez que dançaram algo foi no dia do casamento deles. E na verdade ele detestou tudo aquilo. Tanto protocolo. Rezava pra que essas “obrigações” terminassem para que fossem para a Lua de mel. Terminou e junto com isso, pensou ele ironicamente, a carreira de dançarino de Raul.
Nos 10 anos seguintes, colecionaram momentos felizes, outros tantos tristes, crises e sempre faltava algo que os unia mais. Depois dos filhos e da correria para se criar os filhos, a distância entre eles só fez aumentar.
Foi no meio da acomodação dos dois que Paula surgiu com essa ideia maluca. Ela argumentava que não queria mais ir às festas e ficar sentada, por ter vergonha de dançar sem saber. E assim foram os dois.
As primeiras aulas foram uma catástrofe. Eles eram, com toda certeza, o pior casal daquela turma. Eles eram tão desajeitados que viraram piada entre os colegas de turma. Todos os chamavam de cintura de aço. E diziam ter pena de Paula, de ter um cavalheiro tão desajeitado. Ela consolava Raul, com seu sorriso, que ele sempre admirava.
O tempo passou. Eles começaram a entender o ritmo, a entrar no ritmo. As palavras de incentivo da professora de dança foram muito importantes. E o melhor de tudo isso foi que conforme iam aprendendo o movimento, mais se aproximavam e mais cúmplices se tornavam.
Ele se lembrou, naqueles minutos de viagem, o primeiro dia, no meio de uma dança, em que a professora lhes pediu para olharem dentro dos olhos um do outro. Ele olhou para Paula. Ela olhou para ele. Era como se o mundo se revelasse através dos olhos dela. Por alguns segundos, ficaram paralisados, perdidos (ou encontrados) neste olhar.
Se no início ele reclamava para acompanhar Paula (atender um capricho dela, como falava inicialmente), agora ele era o primeiro a ficar pronto. Reuniões de quartas-feiras ele não aceitava. Era a noite dele e de Paula. Quando eles se uniam, se religavam.
Ele despertou desse devaneio com Paula chamando-o e lembrando-o que hoje a noite seria muito especial. Ela sorria enquanto falava e isso sempre o deixava encantado. Ele estava pronto. Eles estavam prontos.
Naquela noite, no grande teatro da cidade, os principais casais apresentaram seus números para uma grande platéia e jurados exigentes.
Raul e Paula foram os penúltimos. Ao som do tango, eles pareciam flutuar na pista. Parecia uma pessoa. Integrados e entregues totalmente um ao outro.
Com os olhos marejados, por conta da emoção de ouvir os aplausos entusiasmados vindos da plateia e de mãos dadas se entreolharam como um casal apaixonado. Estavam felizes e pouco importava se seriam os melhores. Para ambos, eles já eram os mais perfeitos dançarinos numa categoria só deles. Os dançarinos do amor. ele dizia para ela baixinho, "Conseguimos, meu amor! Conseguimos!"
Sim! Eles conseguiram e foram os melhores daquela noite. Sim! Eles foram os melhores daquele amor dançarino.
Raul e Paula, sempre que podem, estão dançando. Sentem-se livres e unidos ao mesmo, segundo eles contam aos amigos. Aliás, aos poucos, mais e mais amigos em comum participam das quartas dançantes que o casal promove, na escola de dança que um dia mudou a vida deles.
Fim do primeiro Ato!
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